Nas bombas
Petrobras atrasa reajustes nos combustíveis, mas não deixa de repassar alta
Mudança na política de preços da Petrobras completa um ano em maio. Estatal deixou de seguir mercado internacional.

A Petrobras tem atrasado os reajustes no preço dos combustíveis em cerca de um mês, mas não deixa de repassar no Brasil os aumentos do mercado internacional, segundo estudo da Leggio Consultoria com dados até janeiro de 2024.

Há quase um ano, em 16 de maio, a Petrobras anunciava a mudança na sua política de precificação dos combustíveis, que passaria a ter o preço internacional como um dos componentes, mas não o único. A medida foi anunciada como um “abrasileiramento” dos preços.

No entanto, o estudo da Leggio Consultoria, obtido com exclusividade pelo g1, mostra que a estatal tem mantido o valor dos combustíveis pouco abaixo do preço de importação –cerca de 5% menor.

Ou seja, apesar de a Petrobras segurar os reajustes por cerca de um mês, os aumentos são repassados ao consumidor a um preço pouco abaixo dos importadores.

“O ponto é que, quando você está com o preço em alta, essa variação no preço a Petrobras só repassa cerca de um mês depois”, afirmou o sócio da Leggio, Marcus D’Elia.

Repasse das reduções

Porém, quando o movimento é de queda no mercado internacional, a estatal repassa a redução com mais rapidez. Segundo D’Elia, ao segurar o aumento e repassar rapidamente a redução, a Petrobras não toma prejuízo.

“Não dá para dizer que essa política está prejudicando a companhia. Eu interpreto como um posicionamento estratégico de mercado. A Petrobras, eu diria, está funcionando corretamente como uma empresa que compete no mercado, isso é muito positivo para os brasileiros”, declarou D’Elia.

Na verdade, a política da estatal ajuda a evitar o repasse de instabilidades na cotação dos combustíveis, como picos muito altos de preço no mercado internacional. É a margem de lucro desses picos que a Petrobras deixa de faturar.

“Ela [a Petrobras] só deixa de ganhar a diferença entre o pico do preço dela e o pico do mercado internacional. O que eu diria que é uma coisa positiva, ou seja, ela não está trazendo a volatilidade para o preço nacional. Mas está deixando de ganhar muito pouco”, declarou.

A consultoria comparou os preços médios praticados pela Petrobras para o diesel e a gasolina com os valores de paridade de importação publicados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no período de 2020 a janeiro de 2024.

Importadores

O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sergio Araujo, diz não ver repasse das altas. Segundo o executivo, a Petrobras tem segurado o reajuste da gasolina, por exemplo, desde outubro de 2023.

A Abicom calcula a paridade de importação diária –diferentemente da ANP, que é mensal– refletindo instabilidades no mercado internacional.

Na terça-feira (30), a defasagem média entre o preço praticado pela Petrobras e o do mercado internacional era de 5% para o diesel e 14% para a gasolina.

“O último reajuste na gasolina que a Petrobras deu foi no dia 21 de outubro de 2023. Não existe essa avaliação e alinhamento mensal, estamos falando que tem aí quase sete meses sem reajuste”, declarou.

Política de preços igual à de 2022

O estudo da Leggio também aponta que a política de preços da Petrobras é a mesma desde 2022. Ou seja, a estatal já havia deixado de estar completamente alinhada ao preço internacional no último ano do governo anterior.

“Na política dela, ela evita repassar a volatilidade é por isso que os picos de preço não aparecem, ou seja, você nunca tem um pico tão alto quanto o que foi o da paridade internacional. Isso é algo que realmente a Petrobras está fazendo e que não fazia antes, em 2020 e 2021, mas já fazia em 2022 e continuou fazendo em 2023”, disse D’Elia.

Reproduzido do g1.globo.com

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